O livro “Como Ser um Educador Antirracista”, escrito pela autora Bárbara Carine e publicado no ano 2023, tem como objetivo apresentar caminhos para educadores serem antirracista nas suas práticas pedagógicas.
A obra começa com a apresentação da autora ao longo de sua construção performática como intelectual, apresentando como se deu o início da escrita desse livro. Desde o princípio, a autora logo deixa evidente que não apresentará algum tipo de procedimento revolucionário, mas sim apontará caminhos emancipatórios no campo da educação.
Ainda mais, a autora explica como se deu e autointitulou como "intelectual diferentona". Esse termo se deu porque Bárbara não se rendeu à perspectiva performática da produção ocidental do pensamento e por atuar no campo da "intelecpluralidade", conceito desenvolvido no seu pós-doutorado. Este conceito pauta a ruptura com o modelo único de intelectualidade imposto pela visão brancocêntrica ocidental, que prevê uma ritualística epistêmica e performática para a construção de um intelectual.
Além disso, Bárbara faz uma mini apresentação sua, mas para mais especificações do seu currículo, ela direciona o leitor a pegar o seu nome completo e pesquisar no site currículo lattes. Bárbara está mais interessada em que o leitor conheça a sua obra do que em sua formação.
Na primeira parte, denominada "Eu, professor branco, posso ser antirracista?", a autora vai abordar a pergunta que mais escuta de pessoas brancas: qual é o papel delas na luta antirracista? Nesse contexto, a autora vai apresentar o motivo pelo qual escuta essa pergunta com tanta frequência. Após isso, a filósofa começa a fazer toda uma contextualização sobre a luta dos povos negros e como todo esse processo de exploração, escravização e humilhação que os povos negros passaram e passam nos dias atuais.
Na segunda parte, denominada “Um caso de racismo na escola: como atuar?”, Bárbara Carine vai dizer que o Brasil é um país estruturalmente racista e que, nesse cenário, não há como fugir do racismo na escola. A autora ainda faz uma relação do caso de George Floyd e a descoberta do racismo com a pandemia, como a pandemia desvelou o racismo que estava exposto, escancarado havia séculos, mas que a ignorância deliberada da branquitude a impedia de ver(Carine, 2023, p. 69).
Como também vai explicar como se deu o pacto da branquitude (um sistema de privilégio que beneficia pessoas brancas), como se deu a construção de raça, como se deu o processo de animalização das pessoas negras e a construção do mito da democracia racial.
No final dessa parte, Bárbara vai afirmar que o antirracismo é uma luta de todos e discute o lugar de fala de cada um com um exemplo.
Bárbara apresenta um caminho de como a escola e quem a compõe deve agir quando houver um caso de racismo, visto que o racismo é um crime previsto na lei n. 7.716/1989. Além disso, Bárbara relata que nenhum crime de racismo pode ser tratado como algo pontual, apesar de a lei o classificar dessa forma (Carine, 2023, p. 72).
O que Bárbara quer dizer é que não é suficiente apenas prender quem comete o crime de racismo, mas também é essencial criar meios para fazer com que uma pessoa que cometeu o crime reflita sobre a estrutura desse caso. Essa proposta dela é a sugestão que ela apresenta para o que uma escola pode fazer.
No decorrer dessa parte, Bárbara vai discorrer duas coisas bem interessantes: a formação de educadores antirracistas e como aprender dói. Na formação de educadores antirracistas, ela inicia explicando como se deu o início dos trabalhos letivos na Escola afro-brasileira Maria Felipa e como havia um déficit muito grande na formação dos professores que faziam parte da escola.
No tema "Aprender dói", abordado no livro, Bárbara vai dizer que o aprender não é um processo trivial e que aprender dói, tanto do ponto de vista psíquico, no sentido de se apropriar do novo e reestruturar seu pensamento a partir deste, quanto do ponto de vista social.
Na terceira parte, denominada "Como pensar práticas antirracistas em sala de aula", a autora vai apresentar uma parte que provavelmente é a mais esperada pelos leitores. Os leitores podem ficar na expectativa de que a autora apresente alguma receita, mas a própria Bárbara já havia relatado no início do livro que não vai apresentar propostas revolucionárias, e sim caminhos que podem ser seguidos.
A autora vai contextualizar sobre o processo de conhecimento ocidental e de como esse conhecimento está tão enraizado nas escolas brasileiras. Ela discutirá a importância de apresentar outras histórias que não são normalmente apresentadas aos alunos. A filosofá vai destacar a importância de um desenvolvimento de um projeto pedagógico baseado em potências culturais. Esse projeto que ela cita foi o projeto implementado na sua escola, Maria Felipa, e de como a escola busca construir um sistema educacional a partir da não estereotipagem das práticas pedagógicas no âmbito da educação para as relações étnicos-raciais (Carine, 2023, p. 97).
Um dos marcos mais importantes de todos, que vai matar a curiosidade de vários gestores, professores e coordenadores de uma instituição de ensino, é saber o calendário decolonial da Escola Afro-brasileira Maria Felipa, como Bárbara e outros profissionais desenvolveram e implementaram na escola. Trata-se de uma escola diferente, que apresenta outra cultura, sem ser ocidental, apresentando aos alunos novos saberes e comemorando datas comemorativas dos seus ancestrais.
Na quarta parte, denominada "Diversidade não se constrói, se celebra", a autora vai abordar como a sociedade é centrada no homem branco e trazer a reflexão da primeira imagem do corpo humano que é vista na vida dos leitores, através dos livros didáticos da disciplina ciência/ biologia, que...
“não foi de uma mulher negra, de uma mulher, de uma pessoa trans, de um homem que fosse afeminado, de uma criança ou um idoso, de um corpo com deficiência ou de um corpo gordo, mas o que foi mostrado é o corpo de um homem branco cisgênero adulto em idade economicamente ativa, com estética de “machão”, com pênis destacado, corpo atlético e sem deficiência”(Carine, 2023, p. 118)
A autora relaciona como essa noção de humanidade é produzida e difundida em manuais científicos que adentram as escolas básicas e formam o imaginário coletivo da população. Essa construção explica muitas das coisas que gostamos e de como também nos relacionamos com outras pessoas.
Ainda mais, Bárbara aborda um tema super importante que são os espaços de poder que estão reservados para alguns. A discussão se inicia com o questionamento do Brasil ser um país tão rico e existir uma diversidade cultural e existencial, mas nos espaços de poder não refletem essa pluriversalidade. Como o Brasil ainda está sob uma óptica (visão) ocidental, essa visão que nutre as estruturas de opressão.
Na quinta parte, denominada "Sou contra as cotas, pois o necessário é melhorar a escola básica", Bárbara vai discutir o que são cotas raciais, por que elas existem, qual a finalidade e por que são tão importantes para o Brasil. Ela também abordará a necessidade de políticas públicas de permanência dentro desse espaço acadêmico, pois não se trata apenas da entrada, mas dos meios que contribuem para que uma pessoa que ingressa pelo sistema de cotas possa permanecer. Isso é fundamental, uma vez que esses espaços tendem a excluir e não são inclusivos.
Portanto, na finalização do seu livro, na parte “Como ser um educador antirracista”, que retoma o título do livro, a autora vai apresentar caminhos que os educadores podem seguir. Bárbara vai concluir a escrita desse maravilhoso livro, que coincidentemente estou terminando no mesmo dia, 15 de Outubro, Dia dos Professores e das Professoras. A última mensagem do livro foi uma das mais especiais para mim, como estudante e futuro professor. Como Bárbara já diz em seu livro, sejamos doadores de memórias e que
(...) possamos assumir com afeto o compromisso de sermos “doadores de memórias” que socializam os conhecimentos sistemáticos historicamente desenvolvidos pelo coletivo para as novas gerações, visando a formação humana desses sujeitos, mas que compreendem de maneira fundamental o papel crucial da nossa profissão na construção de uma sociedade mais justa igualitária. (Carine, 2023, p. 149).
Caro leitor, este livro é uma obra das divindades, uma escrita muito agradável de ler e que você consegue terminar em um dia só. No entanto, quero dizer e pedir que não cometa o ato de lê-lo em um dia só, principalmente se você está no início do seu aprendizado sobre questões raciais, como eu. Este livro aborda muitos temas, e quando digo isso, é porque são muitos mesmo. Parece que a autora, Bárbara, estava bem eufórica quando estava escrevendo, já que ela despejou uma grande quantidade de informações valiosas de questionamentos ou reflexão. É necessário um pouco de calma para lê-lo.
Bárbara foi bem objetiva no que queria transmitir, sem enrolações, o que me deixa extremamente feliz quando um autor faz isso. A nota que eu dou para este livro é 5/5, e informo que ele entrou para a minha lista dos melhores livros da vida, que recomendo a todos. Além disso, ele serve como um ótimo presente, caso você tenha dúvidas sobre o que dar para seu amigo ou amiga.
Ainda quero dizer que conheci Bárbara Carine no Instagram de uma forma bem aleatória. Seu posicionamento, sua forma de falar e, agora, sua escrita me encantaram muito. Ainda estou no início de entendimento desse mundo, buscando constantemente aprimorar meu conhecimento sobre questões raciais e começando a questionar e compreender muitas coisas.
Tive uma oportunidade incrível de conhecer a Bárbara pessoalmente. Ela foi a primeira escritora que admiro muito a encontrar pessoalmente, e esse momento foi gratificante e maravilhoso. Enquanto ela autografava o meu livro, fiquei emocionado e com uma vontade enorme de chorar. Bem, não sei o motivo, e espero que ela não tenha percebido isso no dia ksksksks
Espero ouvir a opiniões de vocês também para fazer troca de informações.
OBS: Quero deixar claro que esse tipo de escrita não segue um padrão de uma resenha acadêmica. Escrevo com o objetivo de, no futuro, ler isso e verificar o quanto a minha escrita evoluiu. Além disso, escrevo para que mais pessoas tenham a oportunidade de conhecer esses livros. Quando houver dúvidas entre lê-los ou não lê-los, espero que minha resenha possa ajudar.
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