O livro "Eu Odeio os Homens: Um desabafo", escrito pela autora Pauline Harmange e ativista feminista, publicado no ano de 2021 no Brasil. É uma obra provocativa e polêmica que destaca uma perspectiva singular sobre as relações de gênero. A autora aborda temas sensíveis à feminilidade, poder e desigualdade, apresentando uma visão crítica sobre o papel histórico e contemporâneo dos homens na sociedade.
Antes de tudo, é bom informar que esse livro incomodou tanto aos homens que tanto a autora como a editora foram acusadas de incitar ódio contra homens por um assessor do Ministério de Igualdade de Gênero da França que ameaçou de mover uma ação criminal e solicitou que removesse os livros da comercialização.
Pauline Harmange inicia o livro com um desabafo franco, mergulhando nas complexidades das dinâmicas do gênero. A autora não tem medo de expressar sua raiva e frustração, oferecendo uma abordagem visceral que desafia as normas convencionais. Sua linguagem é direta e, por vezes, provocativa, convidando os leitores a refletirem sobre as estruturas de poder existentes.
O livro conta com 9 capítulos curtos, e possivelmente, em 5 horas de leitura ou menos, o leitor consegue terminá-lo. A introdução começa com a autora explicando o motivo da escrita do livro e como ela se sente em relação aos homens, destacando a horrível natureza do patriarcado.
Posteriormente, a autora desenvolve o conceito de misandria, algo que eu não tinha a mínima ideia do que era, mas foi interessante descobrir e entender a perspectiva da autora. Misandria, em resumo, refere-se à raiva das mulheres contra os homens, ao contrário do conceito machista. Paula ainda discute como alguns homens afirmam ser feministas, mas não desconstroem ou renunciam aos seus privilégios, utilizando isso para se aproveitarem das mulheres, algo que conhecemos como "ESQUERDO MACHO".
Uma das coisas que mais me chamaram atenção neste livro é que, após a autora iniciar seu desabafo, ela explica a situação de seu relacionamento com o marido, contextualizando o seu modo de vida para evitar ser chamada de hipócrita. Isso é fantástico, pois quem tiver mente aberta entenderá a autora.
Um capítulo muito interessante e que foi fundamental para a construção do meu conhecimento sobre o feminismo e como as mulheres se sentem diante desse movimento é "Deixe a raiva das mulheres rugir". Este capítulo aborda as emoções das mulheres e sua situação de vulnerabilidade em relação aos homens, assim como a percepção da sociedade sobre isso. Acho que esse trecho pode exemplificar melhor esse entendimento da sociedade e de como ela molda os homens:
“A raiva dos homens é espetacular. Ela se manifesta às vezes em gritos, e em pancadas contra objetos materiais, na maior parte dos casos - mas nem sempre,as inúmeras mulheres que apanharam do marido são testemunhas. Em suma, a raiva dos homens é repleta de agressividade. Estimulamos os rapazes a sentir raiva - é sempre melhor que chorar como uma garotinha - e revidar.”
Além disso, há outro capítulo maravilhoso, que é 'Médiocre como um homem', o qual explica como nossas atitudes enquanto homens são bem vistas na sociedade. Por mais que façamos o mínimo, e às vezes nem isso, temos um prestígio diante da sociedade. Não temos a mesma cobrança que uma mulher tem; não somos questionados ou descredibilizados da mesma forma que as mulheres. É impressionante como a sociedade considera algo surreal quando um homem realiza tarefas domésticas ou vai buscar o filho na escola, enquanto as mulheres desempenham essas atividades todos os dias, sem receber o mesmo reconhecimento que os homens.
Esse capítulo me fez refletir sobre minhas atitudes e mudá-las, pois não adianta eu pregar algo e não fazer. O quão hipócrita eu seria.
Ao longo da narrativa, a autora explora várias facetas das relações entre homens e mulheres, desconstruindo estereótipos e questionando normas condicionais. Suas análises são fundamentadas em sua perspectiva pessoal, mas também incorporam ideias feministas mais amplas, provocando uma reflexão profunda sobre o feminismo..
A força do livro reside na capacidade de mexer com o leitor ao ponto de confrontar suas próprias opiniões e preconceitos. No entanto, é importante observar que algumas partes do livro podem ser consideradas extremas para alguns leitores, o que pode gerar reações variadas.
Portanto, a obra “Eu Odeio os Homens: Um desabafo” é uma leitura que incita o debate e desafia as convenções sociais. A autora não busca consenso, mas sim provoca reflexões sobre as estruturas de poder que moldam as relações de gênero. Este livro é uma obra intensa e provocativa que certamente deixará os leitores reflexivos. Essa é uma obra que entrou para os melhores livros lidos no ano de 2023 e favoritos. 5/5