O livro “Quinze Dias”, escrito pelo autor Vitor Martins e publicado no ano de 2017, relata os pensamentos, desejos, sentimentos, vulnerabilidade de Felipe e suas relações com sua mãe como também com seu vizinho, Caio, no qual se tem uma paixão platônica.
Felipe, personagem principal, já inicia o livro se auto afirmando como gay e gordo e na minha visão o autor escreve isso já de início trazendo uma quebra de expectativa, já que normalmente livros LGBTQ+ é sempre trazendo características dos personagens de uma forma padronizada.
A narrativa se constrói com a ansiedade de Felipe desejando pelas suas tão sonhadas férias de julho, período esse que vai descansar, como também passar bastante tempo realizando os seus hobbies, mas o que ele não esperava era que iria hospedar o seu vizinho do 57, vizinho esse que está presente na vida de Felipe desde a sua infância.
Durante esse período Felipe vai viver momento que não esperava, momentos esses que foram aproveitados com muita intensidade e com prazer. A relação do medo sendo desconstruída por Felipe e Caio, relacionamento de amizade sendo fortalecido e fatos sendo justificados.
O livro é dividido em 15 dias e cada dia narra o dia de Felipe com os seus pensamentos, como o de Caio e a sua mãe Rita. Acredito que esses quinze dias foram de grande transformações na vida de Caio e Felipe, principalmente para Felipe já que o foco central está sobre a sua vida.
Uma das coisas que me fez refletir muito e ficar pensando muito no livro é sobre a construção e padronização estética do corpo humano, principalmente na comunidade. Eu não tenho palavras suficientes para descrever o quão perfeito foi o autor Vitor Martins nessa trajetória. Até mesmo Felipe que se identifica como um pessoa gorda tem suas expectativas e pensamentos quebrados quando conhece a melhor amiga do Caio, Beca, que é uma mulher gorda, esse momento foi genial e a construção da personagem foi muito boa.
Felipe vai entender que Beca e sua namorada Melissa, ambas enfrentam dificuldades semelhantes com a dele em relação ao corpo. No caso da Mel, que é magra, o Felipe acha meio estranho ela ser tão insegura com o próprio corpo porque ela é magra mesmo, mas é aí que ele fica surpreso ao descobrir mais sobre os medos das garotas. Esse momento da piscina ele traz a insegurança dos personagens, isso é bem semelhante com a realidade das pessoas brasileiras quando vão para à praia ou piscina e suas inseguranças se prevalecem ao ponto de evitar vestir determinados tipos de roupas que deixa o seu corpo mais exposto ou mesmo de evitar a ir esse lugares
A troca de experiências que Felipe teve com Caio, Beca e Melissa fortaleceu muito bem o seu desenvolvimento. Quebrando muito com o pensamento do Felipe, visto que é um ser que por sofrer bullying na escola e diante disso reprimiu os seus sentimentos, se isolou e sofre com o processo de auto aceitação vai mudar muita coisa.
Outra parte crucial da história é a relação de Felipe e sua mãe Rita, acho muito bonito como se dá essa relação. A mãe de Felipe é um amor de pessoa, é tão significante como ela apoia e incentiva ele. Bem que deveria existir mais mães assim no Brasil e como muita coisa seria diferente.
Logo, o livro vai abordar diversos assuntos como gordofobia, homofobia, bullying, auto aceitação e a importância da terapia. O autor foi muito extraordinário a escrever esse livro de uma forma tão leve e sutil. A forma como foram construídos os personagens e as narrativas me surpreenderam demais, algo sem muita enrolação e sem pular nenhuma etapa, isso é prazeroso demais para um leitor.
Ademais, o livro é curto e o leitor no instante termina ele, mas eu quis degustar o livro de uma forma devagar e viver esse momento maravilhoso. O que me fez gostar muito desse livro foi por ele ser brasileiro, retratar a situação brasileira e não ser mais um livro padrão de romance gay utópico. Já que normalmente livro desse gênero a construção das narrativas sempre são as mesmas e só mudam o cenário e os personagens, pois no desfecho ou no final do livro o leitor já consegue ter noção de como vai ser.